a)
Outros autores me impressionaram; alguns até mais do que Montaigne; mas nenhum me seduziu mais do que ele, nenhum me pareceu tão próximo, tão familiar, tão simpático (a palavra é fraca, mas a coisa não), tão justo, tão fraterno e amigo. Ele é o mestre dos mestres, porém muita coisa mais. Ele, que queria fazer da amizade uma arte, o que a morte ou o destino impediram, fez da arte uma espécie de nova ocorrência da amizade, tão preciosa quanto a outra, tão rara quanto a outra, mas simplesmente, contra a morte ou o tempo, um pouco – só um pouco – menos frágil…
b)
Gherardo, não te enganes sobre as minhas lágrimas:
vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los.
Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe,
enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela.
Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo,
assim tu também não és mais para mim
do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver.
Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.
Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos.