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     O céu é o teatro natural de fenômenos meteorológicos e astronômicos violentos e inquietantes, mas também majestosos e tranquilizadores: relâmpagos e raios, trovões, arco-íris, auroras, estrelas cadentes, cometas, eclipses, a visão grandiosa do céu estrelado, a sucessão das fases da Lua e dos nasceres e pores do sol.
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     Para a maioria das civilizações antigas, o céu era um mundo paralelo ao nosso, habitado por deuses, monstros e heróis, todos coléricos e temperamentais. Os astros eram divindades que interferiam na nossa vida. Cabia aos sacerdotes, em nome do povo, presidir os rituais para aplacar a ira ou conquistar a benevolência dos deuses.
Julgado hoje, um modelo mítico do Universo será considerado ingênuo. Porém, mais importante do que o adjetivo mítico é o substantivo modelo. Tanto hoje como no passado, modelo significa “esquema mental para organizar ou explicar as observações”.
     O Homem toma conhecimento do mundo ao seu redor por intermédio dos cinco sentidos: visão, audição, paladar, olfato e tato. Mas esse conhecimento sensorial é, em si, fragmentário e caótico. Ele sente então uma necessidade compulsiva de ordenar esse caos, para o qual elabora esquemas mentais, ou modelos. Sentir essa necessidade não é privilégio do Homem civilizado, mas faz parte do Homem de todos os tempos.
     Hoje, a busca por explicações é tarefa do cientista, mas esse trabalho é a continuação da velha e infindável procura de esquemas cada vez mais adequados para explicar o Universo e os novos fatos nele desvendados.

     (…) a ciência se aproxima do mito muito mais do que uma filosofia científica se inclinaria a admitir. A ciência é uma das muitas formas de pensamento desenvolvidas pelo Homem, e não necessariamente a melhor.” (P. Feyerabend, Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. p. 447.)

     A ciência moderna admite que a causa de um fenômeno é natural e faz parte das próprias coisas nele envolvidas. Ao explicar um fenômeno, a ciência moderna usa essa causa para descrever como o fenômeno ocorre. Mas ela jamais será capaz de desvendar essa causa, pois é insondável. A gravidade permite descrever como os corpos caem, mas ninguém conhece a sua natureza.

Tapas e Beijos
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