a)
[…] este trapo não é mais que o desdobramento, é o sutil prolongamento das unhas sulferinas da primeira prostituta que me deu, as mesmas unhas que me riscaram as costas exaltando minha pele branda, patas mais doces quando corriam minhas partes mais pudendas, é uma doida pena ver esse menino trêmulo com tanta pureza no rosto e tanta limpeza no corpo, ela me disse, é uma doida pena um menino de penugens como você, de peito liso sem acabamento, se queimando na cama feito graveto; toma o que você me pede, guarda essa fitinha imunda com você e volta agora logo pro teu nicho, meu santinho, ela me disse com carinho, com rameirices, com gargalhadas […]
b)
Minha filha, minha irmã,
Pensa na manhã
Em que iremos longe, em viagem,
Amar a valer,
Amar e morrer
No país que é a tua imagem!
Os sóis, entre véus,
Desses turvos céus
Para mim têm todo o encanto
Cruel e singular
Do teu falso olhar
Brilhando através do pranto.
Lá, tudo é ordem, nitidez,
Luxo, calma e languidez.