O entendimento de um ser humano exige da pessoa que pretenda entendê-lo que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais ele será para ela um morto, e ela, um morto para ele.
A primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira conforme vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem a pessoa que sentir simpatia pela outra que se propõe conhecer.
A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do outro, sem que se veja.
A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói noutro nível as manifestações da pessoa; tem, porém, que fazê-lo depois que se usou da simpatia e da intuição. Um dos fins da inteligência, na análise de pessoas, é o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está em baixo. Não poderá fazer isso se a simpatia não tiver lembrado essa relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e a pessoa poderá ser interpretada.
A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras coisas e pessoas, que permitam que o outro seja iluminado por várias luzes, relacionado com várias outras pessoas, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese; e a compreensão é uma vida. Assim, certas pessoas não podem ser bem entendidas se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de pessoas diferentes.
A quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a graça, falando a outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros, que é o Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma, da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.