A recordação de um trauma, sofrido ou infligido, é também traumática, porque evocá-la dói, ou pelo menos perturba: quem foi ferido tende a cancelar a recordação para não renovar a dor; quem feriu expulsa a recordação até as camadas profundas para dela se livrar, para atenuar seu sentimento de culpa.
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Todo aquele que tenha suficiente experiência das coisas humanas sabe que a distinção (a oposição, diria um linguista) boa-fé/má fé é otimista e iluminista (…). Pressupõe uma clareza mental que é de poucos e que mesmo esses poucos perdem imediatamente quando, por um motivo qualquer, a realidade passada ou presente neles provoca ânsia ou mal-estar.
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Manter separadas a boa e a má-fé é custoso: requer uma profunda sinceridade consigo mesmo, exige um esforço contínuo, intelectual e moral.