Eu estava na região da Somme, numa cidadezinha chamada Marchélepot, onde vi o eclipse em condições meteorológicas um pouco desiguais. O que me espantou foi ao mesmo tempo a simplicidade e a poesia do fenômeno. Poesia menos pelas imagens que pela noite, ou antes uma espécie de penumbra profunda, que caiu sobre nós por dois minutos e meio.
Com o eclipse, a gente se sente não apenas no mundo, mas no universo. Nossa relação com a natureza muda de escala. Não é mais a árvore que está diante de mim, ou o mar diante do qual me bronzeio, mas uma abertura para algo de muito mais longínquo, que põe em relação dois planetas e uma estrela. Esse é o aspecto mais positivo do progresso dos conhecimentos, o que se pode chamar uma vitória das Luzes. Quando a ignorância e a superstição recuam, abre-se espaço para uma relação mais contemplativa, mais serena, mais verdadeira, mais simples do ser humano com a natureza, isto é, com essa totalidade imensa de que somos uma ínfima parte. É nesse sentido que um eclipse é uma oportunidade de meditar sobre o universo, sobre nosso lugar no universo, logo, de filosofar. Acho que foi assim desta vez, para muitos.
Nós vivemos dois minutos e meio de eternidade. Esses minutos não foram nem mais nem menos eternos do que os precedentes ou do que os seguintes. A eternidade não vem depois da morte, ela está aqui e agora. Ela é o presente sempre presente. No fundo, o eclipse nos lembra que a eternidade não está do lado da imobilidade, mas do lado do porvir. Achei muito emocionantes esses dois minutos e meio de escuridão nos quais, de repente, a singularidade muito simples do que estava acontecendo nos tornava maravilhosamente atentos ao ser. Nos demos conta de que é realmente extraordinário estarmos vivos no mesmo instante que o presente, no mesmo instante que o imenso universo.