Sou um ano mais velho do que o seu correspondente e sinto-me jovem pelas razões exatamente opostas às dele. Tenho trinta e oito anos e sinto-me mais novo cada ano, porque todos os anos estou mais próximo de nunca ter realizado coisa alguma na vida. S realização envelhece-nos. Tudo tem o seu preço: o preço da realização é a perda da juventude. Só a falta de objetivos e um modo de vida inconsequente – se a palavra “modo” pode ser aplicada a uma tal ausência de rumo – nos mantém jovens. Não me casei e por isso mantive livre tanto dos prazeres especiais como dos cuidados próprios dessa espécie de parceira; e o bem e o mal desse estado são igualmente envelhecedores. Nunca assentei numa profissão ou num rumo de vida, nem sequer numa opinião que durasse mais que o minuto passageiro em que foi defendida. Nunca tive uma ambição que um belo dia (e Lisboa tem sobretudo dias belos, em todas as estações) ou um vento leve que não dissipassem e reduzissem a um sonho agradável e acidental. Nunca fiz um esforço real atrás de coisa alguma, nem apliquei fortemente a minha atenção exceto a coisas fúteis, desnecessárias e ficcionais. Sinto-me jovem porque tenho vivido dessa maneira.