Pessoal intransferível,
Faz tempo que temo perguntar isto (faz tempo que temer e tremer são verbos diários, solidários):
“O que foi que nos aconteceu?”
“Nada”, respondem a solidão e o medo.
“Nada”, dizem os dias que passam.
Apenas em mim mora essa equivocada pergunta, essa pergunta que é meu erro e meu crime.
Talvez até peça perdão um dia, por formulá-la. E, em nome dos velhos tempos, talvez venha até a obtê-lo. E, como filha pródiga, possa voltar ao morar daquele filme que fizemos juntos, o “Nenhum a menos”.
Sei, no entanto, que no momento sou mesmo uma criminosa, uma dissidente. E no meio do caminho o que vejo sem parar é uma pedra no meio do caminho, uma pedra no meio do caminho, uma pedra. E que nunca me esquecerei.
Aqui fora está muito frio, mas é de fato aqui fora que moro agora.
Aqui fora a confiança é pouca. Tudo é pobre. Mas é aqui fora que vivo agora.