Descobri hoje que te amei desde aquele dia, logo que chegaste ao Rio em casa da Amelinha.
Foi assim. Quisera naquele tempo que só quando fazia música o mundo era bom. Tocar, palco, palmas, o resto era bem o resto.
Certo dia te conheci, pinguinho de gente, nem real, nem criança, nem bichinho, nem pessoa. De pé, na frente de um enorme piano, e correndo as mãozinhas tão pequenas que nem os dedos apareciam com a velocidade dos movimentos.
Era tão cômico, era tão comovente e era tão diferente. Era qualquer coisa fora deste mundo, não dava para classificar de feio ou bonito.
Neste momento, vendo bem tudo aquilo, eu vejo que te amei porque disse para mim mesma: que bom, ele já tem o seu mundo; também para ele o resto será bem o resto.
Novembro, 1983.