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Dei sobre a minha mudança da literatura para o cinema várias explicações.

A primeira foi: pensei que queria mudar de técnica. Toda a minha produção literária é caracterizada pelo fato de que mudei várias vezes de técnica literária. Pensava que o cinema pudesse ser uma nova técnica.

Hoje compreendi que aquilo não era verdade, porque o cinema não é uma técnica literária, mas uma outra língua.

Então pensei, de uma maneira talvez um pouco aventurosa e exagerada, que passei ao cinema, isto é, a uma outra língua, para abandonar o italiano, para fazer uma espécie de protesto contra o italiano e contra a sociedade italiana, uma espécie de renúncia da nacionalidade italiana.

Mas nem isso é uma explicação suficiente.

A verdadeira explicação, na minha opinião, é esta: eu disse que o cinema é uma língua. Uma língua transnacional, trans-racial, quer dizer, um negro de Gana, um americano, um italiano, quando usam a língua do cinema, fazem isso da mesma maneira. É um sistema de signos que vale para todas as possíveis nações do mundo. E qual é a característica principal desse sistema de signos? O de representar a realidade não através de símbolos, como são as palavras, mas através da própria realidade. Por exemplo, se quiser representar você, represento você através de você, ou através de outra pessoa, mas de carne e osso, análoga a você. Então represento a realidade usando a própria realidade. Isso me permite, fazendo cinema, ou seja, usando esse meio de expressão artística, viver sempre no nível e no coração da realidade.

Tapas e Beijos
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