Conflito é uma palavra muito abrangente. Todos os escritores se interessam por conflitos. Me interesso mais pelo que está em jogo num conflito do que pelo próprio conflito. Além disso, posso dizer que gosto de uma gama muito grande de coisas, e isso é importante para mim: não gosto de me restringir a um tema só, nem de fazer duas vezes a mesma coisa. Mas claro que há preocupações que surgem e retornam em meu trabalho.
Acho que gosto de olhar para as coisas de que, num primeiro momento, tendo a desviar os olhos. É que sei que, na verdade, meu desconforto é maior quando procuro ignorá-las. Então, no caso de Ruanda, o desafio era pegar essa terrível matança que muitas pessoas dizem ser impensável, inimaginável e inarrável, e tentar encontrar um jeito de pensar sobre ela, de imaginá-la, de falar sobre ela claramente, cuidadosamente e com muito respeito por sua complexidade. Me preocupa muito a urgência jornalística de explicar simplificando, reduzindo tudo em seus elementos mais básicos. Há histórias que você só pode compreender respeitando sua complexidade. Isso implica entrar dentro das histórias, circular por lá, penetrar mesmo nos lugares que mais nos convidam a ignorar. Ser ignorado é precisamente o que as pessoas que mais fazem outras pessoas sofrer desejam, e eu não gosto de ver esse tipo de gente alcançar seus objetivos!