Quanto a mim, prefiro ser indiscreto e importuno a ser lisonjeador e dissimulado. Confesso que pode haver alguma altivez e obstinação na inteira liberdade e sinceridade que mantenho para com todos sem distinção, pois creio que me mostro mais independente com as pessoas com as quais menos o deveria ser. O receio de parecer demasiado respeitoso leva-me a um excesso de altivez, não por cálculo, certamente, mas em virtude de um impulso natural. Empregando com os grandes a mesma liberdade, a mesma linguagem e a mesma desenvoltura que uso com os meus, sinto que friso por vez a incivilidade e a indiscrição; mas além de ser eu assim, não tenho o espírito bastante rico, nem para esquivar-me a uma pergunta imprevista mediante algum circunlóquio, nem para mascarar a verdade. E careço de memória suficiente para recordar o que então tenha dito, bem como de segurança para continuar. E é por fraqueza que me mostro altivo. Daí resulta abandonar-me à minha ingenuidade de dizer sempre o que penso, tanto por temperamento como por decisão, contando com a sorte quanto ao que possa ocorrer. Aristipo dizia que o principal fruto que colhera na filosofia fora falar livremente e de coração aberto a quem quer que fosse.