Foi precisamente no momento em que os varredores de rua voltavam com suas carroças puxadas por velhos cavalos brancos, havia uma longa procissão dessas carroças perto da chamada Granja do Barro, no começo do caminho da sirga à beira do rio. Alguns desses velhos cavalos brancos parecem-se com certa velha gravura em água-tinta, que talvez você conheça bem, uma gravura que não tem um valor artístico muito grande, mas que contudo me chamou a atenção e me impressionou. Estou falando da última série de gravuras intitulada A vida de um cavalo. Esta gravura representa um velho cavalo branco, mirrado e esquelético, e totalmente esgotado por uma longa vida de dura faina, de um trabalho longo e penoso. O pobre animal se encontra num lugar indescritivelmente solitário e abandonado, uma campina onde cresce um capim seco e árido, tendo aqui e ali uma árvore retorcida, dobrada e despedaçada pela borrasca. Uma caveira jaz por terra e ao longe, em segundo plano, o esqueleto descorado de um cavalo, ao lado de uma choupana onde mora um homem que trabalha de esfolador. Um céu tempestuoso sobrepõe-se ao conjunto, é um dia acre e rude, um tempo sombrio e escuro.