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O Mauro Senise escreveu para O Globo sugerindo que se fizesse um Casa dos Artistas ou Big Brother Brasil com a Lígia Fagundes Telles, a Fernanda Montenegro, a Marina Colasanti, a Adélia Prado e a Lúcia Guimarães, e o Jaguar, o Jabor, o Millôr, o Hermeto Pascoal, o Nei Lopes, o Manuel de Barros, o Chico Caruso, o Zuenir e eu. Segundo o Senise, com este grupo “teríamos diálogos inteligentes e papos de alto nível”. Acho ótima a ideia, Senise, mas eu fora. Além de não ter sunga, examinei cuidadosamente a sua lista e cheguei à conclusão de que não poderia contribuir para os diálogos inteligentes e o papo de alto nível simplesmente porque não me deixariam falar! A falsa ideia, entre meus amigos, de que eu falo pouco se deve ao fato de que entre eles eu não tenho oportunidade. Eu não sou quieto, sou é muito interrompido.

Brincadeira. Na verdade, falo pouco desde que ouvi uma frase, na infância, que me impressionou muito. “Em boca fechada não entra mosca”. A decisão de não engolir mosca norteia minha conduta desde então, por isso tenho privilegiado formas de comunicação que não dependem de abrir a boca, como o “hum hum”, o movimento de cabeça e o jornalismo impresso. O que pode parecer ponderação ou vocação literária é medo de mosca.

E as pessoas não se dão conta de como falar é difícil. Enquanto pensa no que vai dizer, você tem que prever a quantidade de ar que precisará para fazê-lo. Depois, deve se ocupar simultaneamente da parte mecânica, de articulação das palavras (movimentos sincronizados de glote, língua e lábios, sem descuidar do adequado suprimento de ar), da parte contextual (coerência, relevância e objetivo da frase) e da parte estrutural (concordância, pronomes no lugar certo, etc.) — e, a todas essas, mantendo-se em alerta contra moscas. Minha admiração por pessoas bem-falantes é a mesma que tenho diante de malabaristas que mantêm cinco bolas no ar ao mesmo tempo. Como é que elas conseguem?!

É verdade que ainda não vi entrar mosca na boca de ninguém, por mais que falem. Mas alguns, decididamente, estão se arriscando.

Tapas e Beijos
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