O que fazer neste sítio?
Porque, quando entramos num texto, entramos na verdade numa casa. Está tudo lá. Até – às vezes, principalmente – o que não está, o que não se mostra, o que está faltando.
E então é preciso conhecer o ambiente. Se acostumar com ele. Olhar, sentir o cheiro, o calor, as paredes, os incômodos.
Às vezes é casa de muita cerimônia. Nesses casos, as palavras costumam parecer impecáveis, e aí você se senta na beirada da poltrona com um sorriso amarelo, e aceita um cafezinho amarelo e um biscoitinho amarelo só pra poder ficar mais um pouco, dar uma olhada mais demorada (embora disfarçada: o sujeito na sua frente não parece de muitos amigos).
Às vezes a casa é de cerimônia, mas é enorme e está vazia. Mesmo assim você entra na ponta dos pés, porque o silêncio ecoa seus passos e nunca se sabe o que pode estar escondido atrás de todos aqueles pronomes de tratamento pendurados em quadros altíssimos. Nesse tipo de casa, algumas palavras, quando pronunciadas, desencadeiam uma série de fenômenos sobrenaturais. Por exemplo a palavra pangaré: uma vez eu disse pangaré numa casa assim e vi sair de não sei que porta um cavalinho magro e tímido e desabalado, totalmente desambientado e apavorado, mais fantasmagórico que o próprio Rocinante. (Deve ser porque o Rocinante vive muito bem e muito amado dentro daquela casa Dom Quixote, enquanto o pobre pangaré de que falo simplesmente não se chamava, não cabia naquela casa vazia, não formava frase com as outras palavras da casa, quase todas proparoxítonas, surdas, esnobes).
Mas há também casas muito boas e lindas. Casas que abrem a porta do mundo. Casas pioneiras, janeiras, janelas. E quem disse que em cima delas tem uma placa explicando “entre e seja feliz”? Ou “entre e será fatal”? Estão todas misturadas: na cidade, na floresta e no descampado, os textos não vêm com manual de sobrevivência na selva…
Tudo isso é brincadeira, claro.
Mas tudo isso só é brincadeira porque é muito sério, e então não é nada fácil explicar o que quero explicar.
Basta olhar à sua volta. O que se vê é uma cidade de casas, ou uma floresta de palavras. Não é assim? – mesmo que seja um descampado (a ausência de palavras, nesse caso, não é silêncio ou vazio, mas muita saudade, à vezes ilusão, fantasia).
E você ali parado ou ali andando. De todo modo há que enfrentar, há que enfrentar! Erguer-se todos os Césares, achar um caminho pra seguir adiante, ou mesmo pra continuar parado (sempre: se ficar, o bicho come, se correr, o bicho pega…).
Quero dizer com isso: que já faz tanto tempo que o homem é homem que todas as casas já foram olhadas, visitadas mais de uma vez, moradas, alugadas, vendidas, abandonadas.
Quero dizer: você não será o primeiro a ler, a entrar naquele texto. Mas ao mesmo tempo você será o único a ser você quem está entrando e lendo, pois quem entra e lê faz isso sempre pela primeira vez, e sozinho – no meio do deserto e multidão.
Agora, uma confissão: este sítio que você tem diante dos olhos tem a grande ambição e o secreto amor de te fazer companhia pelas ruas apinhadas ou ermas.
Para isso, reuni aqui umas dezenas de textos, e acrescentei a elas uma série de exercícios de leitura.
Que textos? Você vai ver. Tem de tudo um pouco, e a esperança é que todos te digam alguma coisa por si sós, sem exercício, sem nada. Para isso e por isso:
OS TEXTOS ESTÃO PELADOS!
Isto é, sem contexto, sem autoria, sem data. O primeiro exercício (ou convite) é te deixar a sós com cada um deles, e ver o que é que rola.
Mas depois a sugestão será ler uns com os olhos dos outros, vestir uns com a roupa dos outros, mandar uns calarem a boca dos outros. Mas sempre com bons modos (vale tudo, menos botar a mãe no meio). Pra fazer isso, basta clicar em Tapas e Beijos.
E quando você quiser saber de quem é cada texto – isto é, vesti-lo -, aperte Fonte e pronto!
Bom. Era isso que eu queria dizer.
Se você quiser me dar a honra de sua companhia, ficarei bem alegre.
Mas se nosso encontro for do tipo fugaz, e terminar por aqui, não faz mal. Para mim, pelo menos, terá sido eterno enquanto durou.